sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

na barca com Caronte

na barca com Caronte rio Estige

por Moysés Abbud Filho


"O Egito antigo é uma surpresa em termos de civilização. O tema água para aquele povo era absolutamente importante, digno de definir por suas ações em direção a ela, se uma alma entraria ou não no paraíso. O que sabiam e discutiam, há milhares de anos é, até hoje, algo que o homem ocidental, além de não resolver e conseguir desvirtuar e desprezar durante séculos seguidos, tenta, a duras penas, reverter o quadro dramático da questão das águas no nosso tempo.
O Livro dos Mortos [1] do Egito antigo era mais que uma simples obra a se seguir com a finalidade de ser recompensado desta vida, para uma melhor e gloriosa. Era um código moral abrangente que definia a conduta da população em geral. Ao falecer, o cidadão se apresentava perante uma corte de deuses, na qual era julgado.

Diante desta corte, ele fazia sua defesa (ou declaração de inocência). O que chama a atenção é uma das exigências constantes desse livro – “não poluí a água corrente pública”. Em outra versão há depoimento semelhante exigido “nunca desviei o curso de um rio”. Não poluir, nem desviar cursos d’água eram condutas exigidas daquele povo se quisessem alcançar a glória pós-morte. Esse código, se aplicado hoje, seria certamente a condenação da raça humana. Muitos seriam devorados pelo crocodilo do julgamento egípcio na condenação das lamas pecadoras (ou devoradas pelo fogo eterno conforme prevê nosso monoteísmo). O respeito às águas fazia parte do código penal egípcio.

O próprio rio Nilo era considerado quase um Deus vivo de onde vinha a fonte da vida. Aliás, água é símbolo de vida pois toda vida emana dela. Diríamos que a salvação vem da água (que está presente no batismo de várias culturas). Foi assim que os judeus descobriram o mito de Moisés, a salvação vinda do Nilo. O mesmo rio adorado pelos egípcios, seus algozes, ironicamente lhes proporcionou a figura máxima do judaísmo, libertadora do cativeiro infame. Mais uma vez a salvação veio das águas.

O ocidente optou por ser herdeiro da herança greco-romana com todos seus vícios, equívocos e beleza (virtudes). Bastante diferente da dos egípcios, a visão da água no imaginário grego é curiosa no que diz respeito à morte. Segundo o mito, os mortos eram guiados por Caronte, o barqueiro do Hades (inferno), pelo Estige [2]. “O rio Estige (Styx) é um dos rios do inferno clássico. Os outros são o Aqueronte, o Flegetonte, o Letes e o Cócito. O Estige é um rio pantanoso que cerca a cidade de Dite. É também o quinto círculo onde ficam submersos os iracundos. Os vencidos pela ira são amontoados no rio Estige juntos com seus semelhantes que não conseguiram controlar a raiva. São submetidos assim aos efeitos da ira causados por seus semelhantes, e então se mordem, se batem e se torturam. No fundo do Estige estão os rancorosos que, por nunca terem externado sua ira, não podem subir à superfície e ficam a gorgolar a lama do fundo do rio”.

Como se vê, talvez esteja aí o costume de vermos as águas dos rios como depósitos de poluição, já que herdamos da cultura grega. É possível que tenhamos trazido em nosso inconsciente esse desprezo ou pouca importância para com as águas. Na verdade navegamos muito mais pelo Estige do que pelo Nilo. Caronte, o barqueiro da mitologia grega, tem nos conduzido com maestria para o desastre sem que nos apercebamos disso. Pelo jeito, ele tem navegado pelo Tapajós, Tietê, São Francisco e tantos outros. Resta-nos agora barrar esse barqueiro e seguir as orientações do Livro dos Mortos dos egípcios enquanto, supomos, há tempo para impedir um desastre maior."

Notas do blogueiro:

[1]
Segundo Brancaglion Jr., o "Livro dos Mortos" foi assim denominado pelo editor alemão que o publicou em parte ainda no século XIX, era, na verdade, um guia para os re-encarnados, cujo título original era "Livro para sair à luz do dia"

[2]
Em 13 de dezembro de 1519, Antonio Pigafetta, nobre e aventureiro italiano, participando da expedição comandada por Fernão de Magalhães, na primeira viagem de cincunavegação de um europeu, escreveu em sua passagem por terras brasileiras:
.
"Seus barcos: os chamam canoas e são feitos de tronco de árvore, que é tornado oco por meio de uma pedra cortante, usada em lugar das ferramentas de ferro, que tanto carecem. São tão grandes essas árvores que numa só canoa cabem de trinta a quarenta homens, que a movimentam com remos semelhantes às pás de nossos padeiros. Ao vê-los tão negros, completamente desnudos, sujos e sem pêlos, tínhamos a impressão de estar diante dos marinheiros da Lagoa Estige."

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Solarização de água a bordo

No barco Nheengatu a água do Rio Tapajós é filtrada e solarizada. Está sendo utilizada uma estação meteorológica para estudo da relação entre a temperatura atingida pela água nas garrafas e as condições ambientais (temperatura, umidade, radiação solar, ventos). A estação pertence ao CEULS-ULBRA.



Fotos: Nelson Wisnik, 2008

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Água Solarizada

água solarizada sodis water
Microorganismos são sensíveis ao calor, é possível eliminar 99,9% deles aquecendo a água entre 50-60°C por cerca de uma hora. Assim são eliminados Enterovirus e Rotavírus, Coliformes fecais, Salmonela, Shigela, Vibrião da cólera, ovos de Ascaris, Tênias e Schistosomas, Giárdia, e outros.

Radiação ultravioleta (UV) também tem efeitos letais sobre vírus e bactérias por sua ação sobre as enzimas e o próprio DNA. Menos de 30W.h/m2 são suficientes para eliminar Coliformes e Streptococus fecais bem como Escherichia coli.

Quando submetidos simultaneamente ao calor e à radiação UV ocorre um efeito sinergético e a taxa de inativação aumenta substancialmente, como pode ser visto no gráfico abaixo, onde a primeira coluna é proporcional à mortalidade natural dos microorganismos, sem aplicação de calor ou radiação, a segunda coluna é proporcional à taxa de inativação dos microorganismos quando submetidos à radiação UV, mais a mortalidade natural, a terceira coluna é proporcional à taxa de inativação dos microorganismos quando submetidos ao calor, mais a mortalidade natural, e a quarta coluna é proporcional à taxa de inativação dos microorganismos quando submetidos simultaneamente à radiação UV e ao calor, bem superior à soma da mortalidade natural com os efeitos de inativação resultantes das aplicações isoladas de radiação UV e de calor, evidenciando o efeito sinergético.



Solarização da água é um método de tratamento pouco utilizado mas bastante antigo, que se utiliza do efeito sinergético da aplicação de radiação UV e calor para eliminar patógenos veiculados pela água. É ideal para a desinfecção de pequenas quantidades de água para consumo humano, o que o torna perfeitamente adequado para aplicação ao nível residencial. A solarização não altera quimicamente a água, nem seu odor ou sabor, pois o tratamento consiste apenas em deixar a água ao Sol.

A região amazônica é especialmente privilegiada para a solarização da água uma vez que as temperaturas são normalmente elevadas e a incidência de radiação UV é mais intensa por estar próxima ao equador.

A aplicação do tratamento é extremamente simples uma vez que basta expor água ao Sol, tomando-se alguns cuidados básicos. A água deve ser colocada em recipiente limpo e transparente à radiação UV, podendo ser de vidro ou mesmo saco ou garrafa de plástico. Entre os plásticos o PVC é inadequado por ter em sua composição maior quantidade de aditivos estabilizadores contra radiação UV, que a absorvem, sendo o PET mais adequado à solarização. Garrafas PET transparentes permitem a passagem de pouco mais de 70% da radiação UV contra quase 80% transmitidos pelo vidro incolor. A pequena vantagem da menor absorção da radiação UV pelo vidro não compensa suas desvantagens, relacionadas ao peso, custo e fragilidade, pois garrafas PET são virtualmente inquebráveis, leves, de baixo custo e também quimicamente estáveis.

A radiação UV também é absorvida pela água à medida que a atravessa, assim, se a água estiver turva, a absorção será muito grande e não haverá radiação suficiente para afetar os microorganismos. Para ser solarizada a água deve ser filtrada de modo a reduzir sua turbidez. Paralelamente, embalagens muito grandes devem ser evitadas, recomendando-se a utilização de garrafas de até dois litros. Um método prático de verificar se a água está ou não turva a ponto de prejudicar o processo de solarização consiste em olhar através da água na garrafa, da sua boca em direção ao fundo, observando se é possível distinguir uma símbolo qualquer com cerca de dois e meio centímetros de altura (pode ser uma letra, X, por exemplo).

Se a água a ser solarizada tiver ar dissolvido, e, consequentemente, o oxigênio nele contido, pela ação da radiação UV serão gerados peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e radicais livres de oxigênio, extremamente letais aos microorganismos. Uma prática recomendada é, ao preparar a solarização, colocar de dois terços da capacidade de água da garrafa e agitá-la vigorosamente por cerca de meio minuto, completando a garrafa em seguida.

Realizados estes procedimentos, basta submeter a água à radiação solar, durante um dia ensolarado ou dois dias nublados. Após esfriar a água está pronta para ser ingerida.

As pesquisas constataram que, mesmo vários dias após a solarização da água, não houve retorno dos microorganismos, bem como comprovaram a estabilidade química das garrafas PET após meses de utilização no processo. Ainda, a solarização da água pode resultar na redução de custos pois elimina a necessidade do consumo de algum tipo de combustível para ferver a água.

Os passos do método estão ilustrados na figura abaixo:
São exemplos de garrafas inadequadas para solarização as ilustradas na foto abaixo:
1.- garrafas em pé da esquerda para a direita: garrafa com pigmentação colorida; garrafa grande demais reduzindo o efeito da radiação ultravioleta; garrafa com aditivação anti-radiação (azulada); garrafa de vidro (peso, fragilidade);
2.- garrafa deitada: não é PET, aditivada anti-radiação;

Garrafas PET transparentes podem ser pintadas para maior absorção de radiação infravermelha atingindo temperaturas mais altas, como ilustradas abaixo, em pintura preta ou com sobreposição de pintura alumínio sobre a tinta preta;
O teste de turbidez é fácil de ser feito colocando-se a garrafa cheia com a água a ser solarizada sobre um sinal de fácil reconhecimento, se este sinal puder ser visualizado através da água olhando-se pelo gargalo em direção ao fundo da garrafa cheia então a água tem condições de ser solarizada, caso contrário está muito turva, conforme pode ser observado na foto que se segue:

Satisfeitas estas condições simples o resultado será água potável via solarização.

Parte deste texto foi publicada no "Jornal das Águas", veículo de informação da Coordenação de Extensão do Centro Universitário Luterano de Santarém, o qual tem por Editor Responsável o Prof. Mestre Miguel Borghezan




Para saber mais acesse:
Solar Desinfectionhttp://www.sodis.ch/

Água pode ser tratada com garrafa PET
Favaro, T.
Correio Popular
Campinas, SP

Inactivation of Fecal Bacteria in Drinking Water by Solar Heating
Joyce, T. M. et. al.
APPLIED AND ENVIRONMENTAL MICROBIOLOGY, Feb. 1996, p. 399–402

Desinfecção de Efluentes com Tratamento Terciário Utilizando Energia Solar (SODIS): Avaliação do Uso do Dispositivo para Concentração dos Raios Solares
Paterniani, J. E. S e Silva, M. J. M.
Engenharia Sanitária e Ambiental, V.10 N.1 Jan/Mar/2005, p. 9-13

Solar Desinfection of Drinking Water Contained in Transparent Plastic Bottles: Characterizing the Bacterial Inactivation Process
McGuigan, K. G. et. al.
Journal of Applied Microbiology V.84 1998, p. 1138-1148
Solar Water Desinfection: Scope of the Process and Analysis of Radiation ExperimentsWegelin, M. et. al.
Journal Water SRT-Aqua V.43 N.3 1994, p. 154-169

Inactivation of Fecal Bacteria in Drinking Water by Solar Heating
Joyce, T. M. et. al.
Applied and Environmental Microbiology V.62 N.2 Feb1996, p. 399-402

SODIS – An Emerging Water Treatment Process
Sommer, B. et. al.
Journal Water SRT-Aqua V.46 N.3 1997, p. 127-137

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O perigo da radiação Ultravioleta

Imagem: INPE

A região amazônica, que abrange 60% do território brasileiro e tem uma população de aproximadamente 25 milhões de habitantes, está sujeita à alta incidência de radiação solar por se situar próxima ao equador, entre 5°N e 10°S, com o agravante de haver menos ozônio na atmosfera, que poderia atuar como um filtro da radiação ultravioleta, mas com o atenuante de maior nebulosidade na atmosfera, que também atua como um filtro dela.

A radiação ultravioleta causa danos à saúde, em especial à pele e aos olhos, ambos diretamente expostos à radiação, o que não ocorre com os órgãos internos do corpo. Para melhor quantificar o efeito da radiação ultravioleta sobre o corpo humano, foi criado o “índice ultravioleta”, I-UV, que é uma medida da intensidade da radiação UV relevante aos efeitos sobre o tecido humano, computado através da intensidade da radiação ultravioleta incidente na atmosfera e do conteúdo de ozônio desta, aplicando-se uma correção eritêmica, que considera os efeitos sobre a o tecido humano em função do comprimento de onda da radiação. Utilizando-se os dados de I-UV e da nebulosidade local, calcula-se o índice. Aos valores de I-UV estão associadas as precauções necessárias bem como o tempo de exposição máximo para que não hajam efeitos nocivos à saúde. O I-UV varia de acordo com a latitude e as estações do ano, e as regiões Norte e Nordeste do Brasil estão sujeitas a níveis extremos durante todo o ano, o que não ocorre com as outras regiões do país.

A comunidade médica destaca a necessidade de proteger os olhos contra a radiação UV através do uso de óculos, mas é importante atentar para o tipo de lentes pois, se utilizarmos óculos escuros cujas lentes não oferecem proteção aos raios ultravioleta o efeito será contrário, as pupilas dos olhos se abrirão devido à redução da intensidade de luz que atinge os olhos e mais radiação ultravioleta entrará e atingirá a retina do que se não fossem utilizados óculos escuros.



Tendo a radiação UV menor comprimento de onda que a radiação visível, esta é mais espalhada pela atmosfera, assim, mesmo que estejamos na sombra, protegidos da luz visível e do calor (radiação infra-vermelha), não estamos protegidos da radiação UV difusa.

A tabela abaixo apresenta valores do I-UV e as precauções necessárias:




Devido à proximidade da linha do equador, os valores do I-UV nas regiões norte e nordeste são praticamente constantes durante todo o ano. Para as outras regiões é observado um comportamento sazonal, com valores mais altos no verão e mais baixos no inverno. Deve-se destacar que, durante vários meses do ano, o território brasileiro apresenta, em condições de céu claro, I-UVs considerados extremos pela Organização Mundial da Saúde. 

Veja a tabela abaixo (*):


Se quiser saber o I-UV para sua cidade acione o link "previsão de tempo" na barra de menu deste blog. Aproveite também a oportunidade e visite o site "Programa Sol Amigo", e tome alguns minutos para responder à pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE sobre exposição ao Sol.

(*) Corrêa, M. P. Índice Ultravioleta: Avaliações e Aplicações - Tese apresentada ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Ciências, Área de concentração: Meteorologia Junho de 2003

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Água Virtual - a água intangível

água virtual water


Por Adriana e Nelson Wisnik

Para a produção de bens tão simples como uma folha de papel, ou tão complexos como a construção de um Shopping Center, é indispensável a utilização de água. Em meio à crescente modernização da sociedade mundial, o consumo direto ou indireto de água vem crescendo, acompanhando o desenvolvimento da humanidade em todos os sentidos. A presença da água em praticamente tudo ao nosso redor revela a importância desse recurso natural finito para a continuidade do desenvolvimento da humanidade.

Água virtual é a água que foi utilizada durante o processo de produção de algum bem ou serviço, que esteve presente em pelo menos uma das etapas do processo de produção, mas não é tangível no produto ou serviço finais. É uma medida indireta de recursos hídricos consumidos por um bem até sua finalização.

Por exemplo, quanto de água há em um coco? Dois copos? Considerando-se que um coqueiro necessita cerca de 20 litros de água por dia, são 7300 litros por ano, período no qual chega a produzir, em média, 80 cocos. Assim, foram necessários um pouco mais de 90 litros de água para se ter cada coco. Pode-se dizer então que em um coco há cerca de 90 litros de água. Esta água, que normalmente não consideramos, é o conteúdo de água virtual de um coco, bem mais do que os dois copos que dispomos para beber.

Na produção do papel é utilizada muita água no processamento da celulose, mas consideramos que o papel é um produto “seco”. Para se produzir açúcar ou álcool também se utiliza muita água na lavagem da cana antes de macerá-la. Quem já não viu um pedreiro misturando areia, água e cimento para produzir concreto? Vidro, aço, pneus, metais, o que se imaginar, requer água em alguma fase de sua produção. Levamos roupas a uma lavanderia que nos presta um serviço e recebemos a roupa limpa e seca, mas a água utilizada no processo não é tangível.

O conceito de água virtual foi estabelecido por Gideon Fishelson no início da década de 80, que entendia não fazer muito sentido Israel exportar produtos com alto conteúdo de água embebida, visto ser uma nação com território semidesértico. O termo virtual passou a ser utilizado a partir de 1994, termo este entendido como mais impactante.

O consumo alimentício de água virtual por pessoa é, em média, 12 vezes maior do que o consumo normal diário de água real, revelando assim sua forte presença na área alimentícia, sendo 67% relacionados com produtos agrícolas, 23% relacionados com o comércio de produtos animais, e 10% relacionados com produtos industriais. Como consumo pessoal de água real temos os banhos, descarga, lavar louças e roupas, etc.

O conteúdo de água virtual presente no café da manhã normal de uma pessoa de classe média, composto de uma xícara de café, um copo de leite, um pão francês com manteiga e queijo e uma fruta, é equivalente a 800 litros!

Um kilogramo de aveia, por exemplo, contém cerca de 2400 litros de água virtual, carne bovina 15000 litros, carne de ave 4000 litros, queijo 5300 litros. Enfim, praticamente tudo tem uma quantidade expressiva de água numa forma intangível, virtual. Assim, quando exportamos soja, café, açúcar, carnes, álcool, minérios, aço, estamos também exportando água, água virtual.

Em Santarém, a cada embarque exportado pela Cargill, cerca de 55.000 toneladas de soja, estão sendo exportadas também 137.500.000 toneladas de água virtual. O interesse pela proteção da água que dispomos já foi manifestado em diversos artigos denunciando o “furto” de água da Amazônia por navios que deixavam a região, porém, o recolhimento de água por navios sem carga consiste na captação de água de lastro necessária para a segurança desses navios em alto mar e representa quantidades ínfimas comparadas com a quantidade de água virtual contida nas exportações, para a qual nossa atenção deve ser voltada.

Existem países exportadores de água virtual, o Canadá, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Índia, Vietnam, e países importadores de água virtual, o Japão, Holanda, Coréia, China, Espanha, Egito, Alemanha, Itália, por exemplo. A água virtual revela-se, na maioria das vezes, não apenas como uma ponte entre a matéria-prima e o produto final, mas sim como a garantia da continuidade do mercado de produção, trabalho e sobrevivência, por ser tão importante e assim, muito presente.

O Brasil, único país em condições de expandir sua fronteira agrícola, maior potência hídrica do mundo e 10º exportador de água virtual, precisa atentar para o potencial deste conceito no século em que o petróleo perderá sua importância para os combustíveis renováveis, especialmente dependentes da água para sua produção, e a água tomará lugar como a mais importante commodity no comércio internacional.

Para saber mais:

Pinto, W. – Água de qualidade e menor custo – Beira do Rio, Ano II N°45 Nov 2006 UFPA, Belém PA 2006

Rodrigues, V. – Água Virtual, A água que consumimos sem ver – Artigos Técnicos da Associação dos Engenheiros da SABESP, São Paulo SP

The World Water Council - http://www.worldwatercouncil.org/

Wisnik, N. – Uma Ameaça Globalizada – em postagem anterior neste blog, ou nohttp://sirinalata.blig.ig.com.br/

Leite, M. - O Insustentável Peso da Água - http://www.cienciaemdia.zip.net/ de 01 de outubro de 2006


Foto: Nelson Wisnik, (C) 2008

quarta-feira, 20 de junho de 2007

B/M Nheengatu


Foto: Nelson Wisnik, 2008

quarta-feira, 13 de junho de 2007

segunda-feira, 30 de abril de 2007

domingo, 8 de abril de 2007

quero é mais ...


Foto: Adriana Wisnik de Campos, (C) 2006

quinta-feira, 29 de março de 2007

O perigo das pedras da Ponta do Urucuri


A bacia hidrográfica do Rio Arapiuns está quase totalmente dentro do Município de Santarém, à exceção das cabeceiras dos rios Maró e Aruã, seus formadores (estas estão localizadas no Município de Juruti).

Às margens do Rio Arapiuns estão localizadas mais de trinta vilas/comunidades, total superando 20 mil habitantes só na margem direita, na Reserva Extrativista Arapiuns-Tapajós. O único meio de acesso destes comunitários à sede do município é via transporte fluvial pelo Rio Arapiuns. Os comunitários trazem seus produtos para comercialização em Santarém (frutas, animais de criação para abate, farinha, canoas, madeira semi-aparelhada) e, com os recursos assim obtidos, além dos benefícios sociais e aposentadorias, compram ou trocam e levam às comunidades produtos industrializados (vestuário, alimentos, remédios, utensílios domésticos) e combustíveis (gasolina, querosene, óleo diesel, álcool, gás de cozinha).

São cerca de vinte pequenas embarcações operando o transporte fluvial pelo Rio Arapiuns a partir de Santarém, cada embarcação realizando duas viagens semanais de ida e volta, transportando, em média, vinte e dois passageiros cada, atingindo mais de sete mil passageiros mensais (4,3 semanas por mês).

O Rio Arapiuns é o maior afluente do Rio Tapajós e tem a sua foz determinada, na sua margem direita, pela Ponta do Urucuri. Defronte à Ponta do Urucuri há pedras que constituem um perigo à navegação. O Rio Arapiuns não está cartografado para navegação nem é sinalizado.

Próximo à foz do Rio Arapiuns não há nenhuma comunidade com iluminação que possa servir de referência para navegação nesta área (na verdade não há comunidades com luz firme durante toda noite ao longo do rio). Em noites sem luar ou com cobertura de nuvens a visibilidade é praticamente nula. As condições de tempo podem mudar rapidamente surpreendendo as embarcações já em trânsito.

As embarcações que empreendem o transporte fluvial na região amazônica, mesmo as maiores, não contam com equipamentos sofisticados de navegação como o Radar ou GPS, contam, na sua maioria, porém nem todos, com o auxílio de farol.

A navegação estimada fica prejudicada pela falta de visibilidade de pontos de referência para correção dos abatimentos provocados pela correnteza do rio e pelos ventos. Tempestades são comuns nesta região e dependendo da estação do ano, uma realidade diária. Viajando de Santarém para o Rio Arapiuns o último ponto de referência antes da Ponta do Urucuri é a Ponta do Jari, distante 6,7 milhas náuticas, uma viagem de aproximadamente uma hora. Se houver um batimento de 6 graus (aproximadamente 10%) para bombordo a embarcação é levada em direção às pedras. Na época do “verão” (segundo semestre), quando o rio está baixo e o perigo é maior, ventos Alísios quase constantes sopram com rumo entre 240 graus e 260 graus (sudoeste), podendo provocar facilmente este abatimento.

As pedras da Ponta do Urucuri constituem, portanto, um perigo real e sério à navegação no Rio Arapiuns, sendo necessária providência urgente para sua sinalização antes que acidentes com vítimas fatais venham a ocorrer.

Uma Ameaça Globalizada

água de lastro ballast water

Em agosto de 2004 a Revista de Ecologia do Século 21 – ECO21 [1], publicou matéria do jornalista científico Júlio Ottoboni com o título “Navios roubam água do Rio Amazonas”, alertando sobre o fato de navios carregarem água do Rio Amazonas antes de saírem de águas brasileiras, o que se configuraria como um furto de água doce ou, ainda mais grave, junto com o recolhimento da água estaria havendo o recolhimento e furto de espécies aquáticas endêmicas da Amazônia, que seriam transportadas nesta água. Ainda, de acordo com o artigo, cada navio estaria, “segundo cálculos preliminares”, sendo abastecido com 250 milhões de litros de água (250 mil toneladas).

A notícia é importante e merece ser analisada, ainda que a quantidade de água dita sendo transportada não proceda, uma vez que navios que transitam pelo Rio Amazonas transportam, tipicamente, até 60 mil toneladas de carga, muito aquém da quantidade estimada nos “cálculos preliminares”.

O valor da água doce para consumo em países que dependem de desalinizar água do mar é conhecido, o interesse pelas espécies endêmicas da Amazônia e seu valor genético também é sabido e notório, e o cenário descrito no artigo é verossímil e perfeitamente factível.

O fato de haver transporte de água do Rio Amazonas, e de fato há, com as conseqüências relatadas, ainda é, no presente, subsidiária à sua finalidade, a de lastrear os navios dar-lhes estrutura e estabilidade para navegação em alto mar. Nos casos em questão, navios que trazem carregamento para a região amazônica, insumos eletrônicos e combustíveis, para citarmos apenas dois, devem se lastrear para a viagem de retorno quando sem carga.

O mais grave ficou por ser noticiado, que é a situação inversa, quando navios adentram a bacia Amazônica vindo buscar carregamento, bauxita e soja, para citarmos também apenas dois, podendo chegar lastreados com águas de outras regiões da Terra, com características físico-químicas diferentes e nela contendo agentes patogênicos e organismos exóticos à biota local, resultando em risco ecológico que não se prende somente à região amazônica, mas é uma preocupação mundial.

O valor genético das espécies amazônicas reside no seu endemismo, na sua especificidade, na diferença com as espécies de outras regiões da Terra. O endemismo ocorre devido às características particulares de um ecossistema, o qual, se alterado, compromete a sobrevivência das espécies a ele adaptadas, levando muitas delas à extinção. O derrame de água de lastro, se feito sem controle, de maneira incompetente ou irresponsável, pode resultar em desastre ecológico irreparável. É consenso internacional que o derrame de água de lastro pode ser uma ameaça maior do que aquela associada a um derrame de óleo pois estes têm conseqüências limitadas no tempo.

A resposta internacional ao problema da água de lastro é a iniciativa conjunta da International Maritime Organization - IMO, da Global Environment Facility – GEF e do United Nations Development Programme – UNDP, que buscam minimizar os efeitos da descarga de água de lastro de maneira inadequada, resultando na Convenção Internacional Sobre Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios, da qual o Brasil é signatário. Dentre os procedimentos previstos pela Convenção, estão o tratamento químico da água de lastro, sua retirada para reservatórios apropriados ou a troca de lastro sob condições controladas.

A resposta brasileira a este problema é a regulamentação dos procedimentos através da Norma da Autoridade Marítima para o Gerenciamento da Água de Lastro de Navios, a NORMAM-20 [2]. De modo geral a Norma preconiza a troca controlada da água de lastro trazida pelo navio por água da região próxima ao porto de destino em local a pelo menos duzentas milhas da terra mais próxima e com pelo menos duzentos metros de profundidade, ou seja, no limite da plataforma continental. Em seu capítulo terceiro, que trata de situações particulares, instrui também, para navios que demandam o Rio Amazonas, duas trocas da água de lastro, a primeira visando evitar a transferência de exóticos e/ou patogênicos, a ser realizada segundo as diretrizes gerais, e uma segunda troca, visando a redução da salinidade da água de lastro, que deve ser realizada nas proximidades de Macapá.

O problema requer a conscientização das pessoas envolvidas com água de lastro, treinamento de marítimos e funcionários de terminais portuários, acompanhamento e fiscalização. As transferências de água de lastro e suas conseqüências serão, possivelmente, o maior desafio que a indústria da navegação enfrentará neste século.

Endemismo: fenômeno da distribuição das espécies (ou subespécies) animais ou vegetais referida a uma área restrita e mais ou menos isolada (Glossário da Embrapa)

Endêmicas: são as espécies características de um local ou região geográfica (Glossário da Embrapa)

[1] Ottoboni, J. Navios roubam água do Rio Amazonas - Revista de Ecologia do Século 21 Edição 93 Tricontinental Editora Ltda. Rio de Janeiro RJ 2004

[2] Stopping the ballast water stowaways! - International Maritime Organization - IMO, Global Environment Facility – GEF, United Nations Development Programme – UNDP London United Kingdom 2001

[3] Norma da Autoridade Marítima para o Gerenciamento da Água de Lastro de Navios – NORMAM-20 - Diretoria de Portos e Costas – Marinha do Brasil Rio de Janeiro RJ 2005*

Publicado no "Jornal das Águas", Edição 23, Coordenação de Extensão do ILES/ULBRA - Santarém, PA

quarta-feira, 21 de março de 2007

Rio Arapiuns

enquanto isto, em Urucureá ...

Foto: Nelson Wisnik, (C) 2007

trecho do Rio Tapajós

Lago das Piranhas e Ponta do Cururú
vistos da Serra de Alter do Chão


Foto: Nelson Wisnik, (C) 2005

Nela, em se plantando, nem tudo dá ...

jirau para hortaliças em residência no lago Maicá

Parodiando a famosa frase de Pero Vaz de Caminha em sua carta a el-rei Dom Manuel, “Nela, em se plantando, tudo dá” ("E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem." [1]), criando o primeiro paradigma agrícola do Brasil, tão forte que ainda há quem nele acredite mas, nela em se plantando, nem tudo dá.

Fazendo uma digressão, sugiro a leitura do editorial de Carlos Vogt na Revista Eletrônica de Jornalismo Científico ComCiência [2], no qual comenta sobre a carta de Caminha e de outros viajantes, contextualizando historicamente.

Com relação à soja e ao clima, um estudo importante foi publicado em 2002 pelo GTZ – Agência de Cooperação Técnica Alemanha Brasil [3], alerta que apenas até os limites da fronteira conhecida como “arco do desmatamento” as condições de pluviosidade satisfazem os requisitos para implantação de cultura mecanizada de soja.

Não é por acaso que os produtores rurais de soja na região do Oeste do Pará ainda não conseguiram a produtividade esperada por eles, inviabilizando muitos empreendimentos.

[1] Cortesão, Jaime - "A carta de Pero Vaz de Caminha"Lisboa: Portugália, 1967, pp. 221-57,
apud Darcy Ribeiro &Carlos de Araujo Moreira Neto (orgs.),
A fundação do Brasil:Testemunhos, 1500-1700. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, pp. 84-91

[2] “Viagem pelas Crônicas” – Vogt, Carlos – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico ComCiência N.77 Campinas junho de 2006
http://www.comciencia.br/comciencia/ ?section=8&edicao=14&id=121

[3] "Paisagens, Biodiversidade, Solos e Pluviosidade na Amazônia" - Sombrek, Wim - Cadernos de Cooperação Técnica 02/2002 GTZ Manaus


Foto: Nelson Wisnik, (C) 2007

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

a Floresta Nacional do Tapajós



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2006

Rio Arapiuns

abrigo da Ponta Grande



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2006

ferramental para o relaxamento



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2006

pôr do Sol

Rio Arapiuns pôr do Sol dourado
No Rio Arapiuns o pôr do Sol é dourado ...

Foto: Nelson Wisnik, (C) 2007 - Adriana Wisnik se exercita na Ponta do Icuxi

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

o abraço da morte ...


"figueira mata pau" abraçando uma vítima
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Foto: Nelson Wisnik, (C) 2007

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

no Maicá



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2004

no lago verde de Alter do Chão


Foto: Nelson Wisnik, (C) 2007

em Urucureá, comunidade do Rio Arapiuns



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2003


no refúgio



Foto: Nelson Wisnik, (C) 2002