sábado, 23 de outubro de 2010

abrigado no Igarapé-Açú

Tapajos Amazonas tempestade convectiva Santarem


visão noturna de uma grande e duradoura tempestade convectiva que teve início na tarde de 12 de março de 2005. O vídeo foi feito no barco Nheengatu enquanto abrigado no canal de Igarapé-Açu. Este estreito canal liga o rio Amazonas até o rio Tapajós, seu afluente, em frente à cidade de Santarém, no oeste do Estado do Pará.

Video: (C) Nelson Wisnik, 2005

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Santarém está preparada?

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A forte estiagem que caracteriza a região este ano é conseqüência da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico, que está anomalamente alta desde abril do ano passado, fenômeno conhecido com El Niño.

A variação do nível do Rio Tapajós parece seguir o padrão de 2005, a questão que se coloca é se a atual estiagem será tão intensa quanto aquela, ou mais.

Como o nível do rio em Santarém depende bem menos da precipitação local do que da precipitação rio acima, observando-se os desvios de precipitação na região amazônica ocorridos nos anos de 2005 e agora em 2010 podemos arriscar um prognóstico. Os mapas com os desvios de precipitação trimestrais de julho a setembro nos anos de 2005 e 2010 mostram que as situações nestes anos têm similaridades.

Mais próximo no tempo, o mapa de desvio de precipitação do último mês, setembro, mostra que a estiagem ainda não terminou, e mais, que a situação é mais grave do que em 2005, inferindo-se que o nível do rio deve continuar baixando.

A administração pública, tanto municipal quanto estadual, deve aprofundar a análise e se adiantar na perspectiva de problemas de deslocamento das embarcações, do “terminal’ hidroviário, do acesso às escolas e aos postos de saúde em comunidades ribeirinhas, problemas no abastecimento de água, de remédios, de gêneros de primeira necessidade, e não ficar esperando o fato consumado.

Em 2005 estive presente à seção legislativa da ALEPA em Santarém quando, entre tantos discursos de trocas de elogios que praticamente tomavam o tempo disponibilizado a cada Deputado, pude ouvir tímidas promessas de ações estruturais para que as dificuldades enfrentadas naquele ano não se repetissem caso nova estiagem acometesse a região. As ações foram tomadas? A região está preparada para a forte estiagem que se prenuncia?

Continuando a análise, a partir de maio deste ano constatou-se a inversão da anomalia da TSM do Pacífico, passando a ficar abaixo da normal, observando-se já em agosto o estabelecimento do fenômeno La Niña. Este fenômeno tem como impactos no Brasil o aumento da precipitação sobre as regiões Norte e Nordeste, enquanto a região Sul experimenta redução na precipitação e seca.

Alterações globais não acontecem da noite para o dia, mas a reversão do quadro de estiagem deve acontecer já na próxima cheia, a qual deverá ser grande e invadir novamente a cidade.

Para a análise descrita acima foram utilizadas informações sobre os desvios de precipitação que podem ser encontradas nas páginas do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, e informações sobre os níveis dos rios que podem ser encontradas na página da ANA – Agência Nacional de Águas.

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tratamento de turbidez da água do rio Amazonas

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Em nossa postagem de 26 de outubro de 2007 descrevemos o processo SODIS de desinfecção da água através de sua exposição à radiação solar, a qual, pela ação da radiação infravermelha, aquece a água e, pela ação da radiação ultravioleta, proporciona a formação de ozônio e peróxido de hidrogênio (água oxigenada).
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A ação conjunta, sinergética, do aquecimento e do potencial oxidante do ozônio e da água oxigenada, milhares de vezes superior ao poder oxidante do cloro, leva à destruição os tecidos orgânicos dos patógenos presentes na água.

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Para que o processo de desinfecção da água ocorra e seja eficiente é necessária a penetração da radiação solar na água sob exposição, o que implica que esta deverá ter baixa turbidez *.

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Os rios da Amazônia são classificados primariamente pela aparência de suas águas. Os rios de águas “brancas” são os rios que carregam muitos sedimentos de solos erodidos e têm águas com alta turbidez (turvas), como os rios Amazonas e o Madeira. Os rios de águas “negras” são impregnadas de ácido fólico, resultante da degeneração de material orgânico, que lhes confere alta turbidez, como os rios Negro e Trombetas. Finalmente, os rios de águas “claras”, que drenam áreas geologicamente estáveis, com águas de baixa turbidez, como os rios Tapajós e Xingu.

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Embora água seja um elemento abundante na Amazônia, nem todas as comunidades ribeirinhas são banhadas por rios com águas que possam ser utilizadas sem um mínimo de cuidado. Durante a época da cheia os rios transbordam e alagam as áreas utilizadas para cultivo agrícola ou criação de animais, durante a estiagem a água recua e rios e lagos têm aumentada a concentração de material em suspensão ou dissolvidos, tornando-se, tanto na cheia quanto na estiagem, necessário tratamento básico da água antes de seu consumo. Um método de tratamento de água que se adequa à região amazônica é o processo SODIS.

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Águas “claras” podem ser diretamente submetidas ao processo SODIS, enquanto que águas “negras” e “brancas” necessitam ter sua turbidez reduzida antes de serem submetidas à radiação solar.

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No caso das águas “negras” uma das soluções é a utilização de sementes de Moringa oleifera, uma espécie pantropical, para precipitação dos solutos. Sua viabilidade foi estudada em 2001 por Luís Ramos Borba, sob orientação da Dra. Carmem Lúcia Moreira Gadelha, na Universidade Federal da Paraíba.

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No caso das águas “brancas” os materiais em suspensão podem ser retirados por um processo de filtragem simples. Filtros de grande vazão foram desenvolvidos e instalados em comunidades ribeirinhas, mas para uso por moradores isolados, faltava um modelo mais prático e transportável do que as tradicionais e frágeis “talhas de barro”. Construímos um modelo simples e de baixo custo com partes de tubos e conexões hidráulicas para uso com a mesma “vela” de cerâmica filtrante das 'talhas de barro”, ilustrado na foto abaixo:

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Uma “vela” de cerâmica, o elemento filtrante de uso comum em “talhas de barro”, de baixo custo, é fixada em uma tampa na extremidade de um tubo de PVC, de modo a ficar dentro dele, na outra extremidade do tubo é colocada uma redução de diâmetro de modo a fixar uma terminação para mangueira, pela qual entra a água a ser filtrada. A mangueira, cuja finalidade é criar uma coluna d'água para prover pressão sobre o elemento filtrante, pode ter seu comprimento adaptado à conveniência de sua utilização e a vazão desejada. A esponja preta incluída na ilustração tem finalidade única e exclusiva de limpar o elemento filtrante por abrasão.
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A foto abaixo ilustra o resultado da filtragem em água do rio Amazonas coletada em 09 de dezembro de 2007 logo a montante da foz do rio Tapajós. À esquerda a água antes da filtragem, em uma garrafa PET de capacidade de dois litros, vista de cima, à direita a mesma água após filtragem, notando-se que a redução da turbidez tornou possível observar a marca “X” colocada sob a garrafa.

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Nesta condição a água do rio Amazonas pode ser submetida ao processo SODIS de desinfecção.

Esta postagem faz parte do BLOG ACTION DAY, cujo tema deste ano é ÁGUA. Acesse a página blogactionday.change.org para saber mais sobre esta ação e as postagens mundiais

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* turbidez é uma medida da quantidade de materiais em suspensão ou dissolvidos na água, fazendo com que deixe de ser translúcida e adquira cor, resultante da absorção ou espalhamento da radiação solar incidente sobre ela
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Para saber mais sobre o processo Sodis acesse nossa postagem de 26 de outubro de 2007.
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