sexta-feira, 11 de novembro de 2016

SAGA - o oceano subterrâneo da Amazônia


Amazônia tem "oceano subterrâneo"
por Elton Alisson


Agência FAPESP – A Amazônia possui uma reserva de água subterrânea com volume estimado em mais de 160 trilhões de metros cúbicos, estimou Francisco de Assis Matos de Abreu, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que terminou no dia 27 de julho, no campus da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco.
O volume é 3,5 vezes maior do que o do Aquífero Guarani – depósito de água doce subterrânea que abrange os territórios do Uruguai, da Argentina, do Paraguai e principalmente do Brasil, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados (km2) de extensão.
“A reserva subterrânea representa mais de 80% do total da água da Amazônia. A água dos rios amazônicos, por exemplo, representa somente 8% do sistema hidrológico do bioma e as águas atmosféricas têm, mais ou menos, esse mesmo percentual de participação”, disse Abreu durante o evento.
O conhecimento sobre esse “oceano subterrâneo”, contudo, ainda é muito escasso e precisa ser aprimorado tanto para avaliar a possibilidade de uso para abastecimento humano como para preservá-lo em razão de sua importância para o equilíbrio do ciclo hidrográfico regional.
De acordo com Abreu, as pesquisas sobre o Aquífero Amazônia foram iniciadas há apenas 10 anos, quando ele e outros pesquisadores da UFPA e da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram um estudo sobre o Aquífero Alter do Chão, no distrito de Santarém (PA).
O estudo indicou que o aquífero, situado em meio ao cenário de uma das mais belas praias fluviais do país, teria um depósito de água doce subterrânea com volume estimado em 86,4 trilhões de metros cúbicos.
“Ficamos muito assustados com os resultados do estudo e resolvemos aprofundá-lo. Para a nossa surpresa, descobrimos que o Aquífero Alter do Chão integra um sistema hidrogeológico que abrange as bacias sedimentares do Acre, Solimões, Amazonas e Marajó. De forma conjunta, essas quatro bacias possuem, aproximadamente, uma superfície de 1,3 milhão de quilômetros quadrados”, disse Abreu.
Denominado pelo pesquisador e colaboradores Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga), o sistema hidrogeológico começou a ser formado a partir do período Cretáceo, há cerca de 135 milhões de anos.
Em razão de processos geológicos ocorridos nesse período foi depositada, nas quatro bacias sedimentares, uma extensa cobertura sedimentar, com espessuras da ordem de milhares de metros, explicou Abreu.
“O Saga é um sistema hidrogeológico transfronteiriço, uma vez que abrange outros países da América do Sul. Mas o Brasil detém 67% do sistema”, disse.
Uma das limitações à utilização da água disponível no reservatório, contudo, é a precariedade do conhecimento sobre a sua qualidade, apontou o pesquisador. “Queremos obter informações sobre a qualidade da água encontrada no reservatório para identificar se é apropriada para o consumo.”
“Estimamos que o volume de água do Saga a ser usado em médio prazo para abastecimento humano, industrial ou para irrigação agrícola será muito pequeno em razão do tamanho da reserva e da profundidade dos poços construídos hoje na região, que não passam de 500 metros e têm vazão elevada, de 100 a 500 metros cúbicos por hora”, disse.
Como esse reservatório subterrâneo representa 80% da água do ciclo hidrológico da Amazônia, é preciso olhá-lo como uma reserva estratégica para o país, segundo Abreu.
“A Amazônia transfere, na interação entre a floresta e os recursos hídricos, associada ao movimento de rotação da Terra, cerca de 8 trilhões de metros cúbicos de água anualmente para outras regiões do Brasil. Essa água, que não é utilizada pela população que vive aqui na região, representa um serviço ambiental colossal prestado pelo bioma ao país, uma vez que sustenta o agronegócio brasileiro e o regime de chuvas responsável pelo enchimento dos reservatórios produtores de hidreletricidade nas regiões Sul e Sudeste do país”, avaliou.
Vulnerabilidades
De acordo com Ingo Daniel Wahnfried, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), um dos principais obstáculos para estudar o Aquífero Amazônia é a complexidade do sistema.
Como o reservatório é composto por grandes rios, com camadas sedimentares de diferentes profundidades, é difícil definir, por exemplo, dados de fluxo da água subterrânea para todo sistema hidrogeológico amazônico.
“Há alguns estudos em andamento, mas é preciso muito mais. É necessário avaliarmos, por exemplo, qual a vulnerabilidade do Aquífero Amazônia à contaminação”, disse Wahnfried, que realizou doutorado direto com Bolsa da FAPESP.
Diferentemente do Aquífero Guarani, acessível apenas por suas bordas – uma vez que há uma camada de basalto com dois quilômetros de extensão sobre o reservatório de água –, as áreas do Aquífero Amazônia são permanentemente livres.
Em áreas de floresta, essa exposição do aquífero não representa um risco. Já em áreas urbanas, como nas capitais dos estados amazônicos, isso pode representar um problema sério. “Ainda não sabemos o nível de vulnerabilidade do sistema aquífero da Amazônia em cidades como Manaus”, disse Wahnfried.
Segundo o pesquisador, tal como a água superficial (dos rios), a água subterrânea é amplamente distribuída e disponível na Amazônia. No Amazonas, 71% dos 62 municípios utilizam água subterrânea (mas não do aquífero) como a principal fonte de abastecimento público, apesar de o estado ser banhado pelos rios Negro, Solimões e Amazonas.
Já dos 22 municípios do Estado do Acre, quatro são totalmente abastecidos com água subterrânea. “Apesar de esses municípios estarem no meio da Amazônia, eles não usam as águas dos rios da região em seus sistemas públicos de abastecimento”, avaliou Wahnfried.
Algumas das razões para o uso expressivo de água subterrânea na Amazônia são o acesso fácil e a boa qualidade desse tipo de água, que apresenta menor risco de contaminação do que a água superficial.
Além disso, o nível de água dos rios na Amazônia varia muito durante o ano. Há cidades na região que, em períodos de chuva, ficam a poucos metros de um rio. Já em períodos de estiagem, o nível do rio baixa 15 metros e a distância dele para a cidade passa a ser de 200 metros, exemplificou. 
Fonte: 
http://agencia.fapesp.br/amazonia_tem_oceano_subterraneo/19541/

Leia mais:

http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2015-03/maior-aquifero-do-mundo-esta-localizado-na-amazonia

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Reparo de uma pequena embarcação em Santa Cruz


Na comunidade de Santa Cruz, na margem esquerda do rio Tapajós, pertencente ao Município de Aveiro, uma pequena embarcação apresentou goteira em uma tábua a bombordo, próxima ao hélice.

O barco teve que ser puxado em parte para fora d'água, pela popa, pela força dos homens, centímetro a centímetro empregando o princípio da alavanca.


À sua volta a vida tem seu curso, crianças brincam, uma embarcação passa em direção a Itaituba, mulheres lavam roupa e utensílios domésticos ...



Nesta parte do barco a tábua não tem formato simples nem é plana. O trabalho de corte da tábua é feito à mão utilizando um enchó. Para dar curvatura à peça a tábua é molhada com óleo queimado em uma das faces, que é colocada de frente ao calor provocado pela queima de um amontoado de gravetos, e forçada a tomar a forma desejada. Finalmente a peça é colocada no lugar e as frestas calafetadas com algodão embebido em zarcão.

Roupas e utensílios, já lavados, são levados pra casa.






Videos: (C) Nelson Wisnik, 2005

Pernoitando no Lago Tapari


Em 16 de fevereiro de 2014 pernoitei no Lago Tapari. O video faz um giro de 360° em torno do barco Nheengatu, mostrando minha posição [1].

Mas eu não estava sozinho no lago, pela manhã descobri que me acompanhava um grupo de trinta-réis-grandes (Phaetusa simplex), que se acomodou em galhos sobre a água, para maior segurança contra predadores terrestres.





[1] Lat 02°26'20"S, Long 054°53'20"W
Coordenadas no Datum WGS'84

Video e Foto: (C) Nelson Wisnik, 2014



Chegando ao Rio Tapajós via Furo do Jari


O Furo do Jari é um canal natural de 14,7 milhas náuticas (~27,2km) que tem início no rio Amazonas [1] e termina no meio do rio Tapajós [2].

O Furo do Jari dá acesso fluvial às comunidades de Carariacá e Arapixuna.


Ao chegar à Ponta do Jari, no final do Furo, este se abre à imensidão do Tapajós, com cerca de 13km de largura neste ponto.


[1] Lat 02°10'41"S, Long 054°52'53"W

[2] Lat 02°21'33"S, Long 054°54'40"W
Coordenadas no Datum WGS'84

Video: (C) Nelson Wisnik, 2014


Navegando no Canal do Sururú



O Canal do Sururú foi dragado à mão, ligando a enseada das Araras, no rio Tapajós, ao Furo do Jari, canal natural que conecta o rio Amazonas ao rio Tapajós, à montante de sua foz.

O canal é uma alternativa mais rápida a quem precisa subir o rio Amazonas a partir de Santarém, evitando a navegação contra-correnteza até a saída em Carariacá.

Video: (C) Nelson Wisnik, 2014