quinta-feira, 28 de junho de 2007

Água Virtual - a água intangível

água virtual water


Por Adriana e Nelson Wisnik

Para a produção de bens tão simples como uma folha de papel, ou tão complexos como a construção de um Shopping Center, é indispensável a utilização de água. Em meio à crescente modernização da sociedade mundial, o consumo direto ou indireto de água vem crescendo, acompanhando o desenvolvimento da humanidade em todos os sentidos. A presença da água em praticamente tudo ao nosso redor revela a importância desse recurso natural finito para a continuidade do desenvolvimento da humanidade.

Água virtual é a água que foi utilizada durante o processo de produção de algum bem ou serviço, que esteve presente em pelo menos uma das etapas do processo de produção, mas não é tangível no produto ou serviço finais. É uma medida indireta de recursos hídricos consumidos por um bem até sua finalização.

Por exemplo, quanto de água há em um coco? Dois copos? Considerando-se que um coqueiro necessita cerca de 20 litros de água por dia, são 7300 litros por ano, período no qual chega a produzir, em média, 80 cocos. Assim, foram necessários um pouco mais de 90 litros de água para se ter cada coco. Pode-se dizer então que em um coco há cerca de 90 litros de água. Esta água, que normalmente não consideramos, é o conteúdo de água virtual de um coco, bem mais do que os dois copos que dispomos para beber.

Na produção do papel é utilizada muita água no processamento da celulose, mas consideramos que o papel é um produto “seco”. Para se produzir açúcar ou álcool também se utiliza muita água na lavagem da cana antes de macerá-la. Quem já não viu um pedreiro misturando areia, água e cimento para produzir concreto? Vidro, aço, pneus, metais, o que se imaginar, requer água em alguma fase de sua produção. Levamos roupas a uma lavanderia que nos presta um serviço e recebemos a roupa limpa e seca, mas a água utilizada no processo não é tangível.

O conceito de água virtual foi estabelecido por Gideon Fishelson no início da década de 80, que entendia não fazer muito sentido Israel exportar produtos com alto conteúdo de água embebida, visto ser uma nação com território semidesértico. O termo virtual passou a ser utilizado a partir de 1994, termo este entendido como mais impactante.

O consumo alimentício de água virtual por pessoa é, em média, 12 vezes maior do que o consumo normal diário de água real, revelando assim sua forte presença na área alimentícia, sendo 67% relacionados com produtos agrícolas, 23% relacionados com o comércio de produtos animais, e 10% relacionados com produtos industriais. Como consumo pessoal de água real temos os banhos, descarga, lavar louças e roupas, etc.

O conteúdo de água virtual presente no café da manhã normal de uma pessoa de classe média, composto de uma xícara de café, um copo de leite, um pão francês com manteiga e queijo e uma fruta, é equivalente a 800 litros!

Um kilogramo de aveia, por exemplo, contém cerca de 2400 litros de água virtual, carne bovina 15000 litros, carne de ave 4000 litros, queijo 5300 litros. Enfim, praticamente tudo tem uma quantidade expressiva de água numa forma intangível, virtual. Assim, quando exportamos soja, café, açúcar, carnes, álcool, minérios, aço, estamos também exportando água, água virtual.

Em Santarém, a cada embarque exportado pela Cargill, cerca de 55.000 toneladas de soja, estão sendo exportadas também 137.500.000 toneladas de água virtual. O interesse pela proteção da água que dispomos já foi manifestado em diversos artigos denunciando o “furto” de água da Amazônia por navios que deixavam a região, porém, o recolhimento de água por navios sem carga consiste na captação de água de lastro necessária para a segurança desses navios em alto mar e representa quantidades ínfimas comparadas com a quantidade de água virtual contida nas exportações, para a qual nossa atenção deve ser voltada.

Existem países exportadores de água virtual, o Canadá, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Índia, Vietnam, e países importadores de água virtual, o Japão, Holanda, Coréia, China, Espanha, Egito, Alemanha, Itália, por exemplo. A água virtual revela-se, na maioria das vezes, não apenas como uma ponte entre a matéria-prima e o produto final, mas sim como a garantia da continuidade do mercado de produção, trabalho e sobrevivência, por ser tão importante e assim, muito presente.

O Brasil, único país em condições de expandir sua fronteira agrícola, maior potência hídrica do mundo e 10º exportador de água virtual, precisa atentar para o potencial deste conceito no século em que o petróleo perderá sua importância para os combustíveis renováveis, especialmente dependentes da água para sua produção, e a água tomará lugar como a mais importante commodity no comércio internacional.

Para saber mais:

Pinto, W. – Água de qualidade e menor custo – Beira do Rio, Ano II N°45 Nov 2006 UFPA, Belém PA 2006

Rodrigues, V. – Água Virtual, A água que consumimos sem ver – Artigos Técnicos da Associação dos Engenheiros da SABESP, São Paulo SP

The World Water Council - http://www.worldwatercouncil.org/

Wisnik, N. – Uma Ameaça Globalizada – em postagem anterior neste blog, ou nohttp://sirinalata.blig.ig.com.br/

Leite, M. - O Insustentável Peso da Água - http://www.cienciaemdia.zip.net/ de 01 de outubro de 2006


Foto: Nelson Wisnik, (C) 2008

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom o texto. Possibilita uma reflexão séria e um debate bem elucidativo. Vou compartilhar e trabalhá-lo com meus alunos no início das aulas. Parabéns a você e à Adriana Wisnik.